Rasguei o cavalo de papel em que tanto te tinha fantasiado para chegares até mim. Onde tinha eu a cabeça? Tu não o sabes montar. E a insípida forma em que te imaginei a surgir no meio de um manto de chuva tornou-se na vulgar forma de um chapéu de hastes partidas pelo vento... A força de vontade não era assim tanta e quando desci do prédio, ninguém ali estava para me esperar e para eu receber do melhor jeito que sei.
Mas até lá eu subi, até mais não conseguir. Louvei a criatividade que em mim reside e tornei belos os cacos da barca que no meu mar de ofrendas navega. Cheguei a sair da minha pele e da minha mente para que agissem sozinhas, inapta a ver que as consequências seriam severas. Estava capaz de combater fomes, sedes e vontades, se o sumo dessas abstinências fosse o célebre sabor da tua companhia.
E então eu acordei, com soluços e choros. Os próprios pesadelos tinham maior peso e dor que a já cruel realidade, com sabor a fel. Se já nem a dormir me encontro segura, onde me posso abrigar? À mercê da tua indiferença, torno-me vazia em torno da vulgar pessoa que represento para ti. Desço a pique de um cume que tanto me custou alcançar e aqui fico, com fios de nada, agarrada a este ser estranho.
- a vida não são só coisas más,
hoje também sonhei com um céu estrelado -
04Mar2017
Comentários recentes